terça-feira, 1 de abril de 2008

Arquitectura Ramo Grande

Recentemente e com alguma frequência têm surgido artigos de jornal acerca da denominada arquitectura do Ramo Grande, disseminada em freguesias como Lajes, Vila Nova, Fontinhas, São Brás e Cabo da Praia.
Seria importante para salvaguarda dos exemplos que ainda persistem, a criação de legislação adequada para a zona em questão, onde se implantam.

No jornal Diário Insular de 1 de Abril de 2008 foi publicada a seguinte entrevista ao Arq.º José Parreira sobre esta temática:

DI: A chamada arquitectura do Ramo Grande parece ser fenómeno interessante de aproveitamento de materiais endógenos e de concepção de técnicas construtivas bem adaptadas a esses materiais. Porém, não se conhecem estudos sobre estas temáticas. Parece-lhe que o estudo aprofundado dessas casas poderia resultar em proveitos para hoje e para o futuro?
JP: Não existe futuro sem passado e nesse sentido, todo o conhecimento que vem desse passado ajuda a sedimentar e alicerçar o futuro. A arquitectura é também a formalização cultural de um povo e contribui de sobremaneira para a fortificação da identidade do mesmo. Por outro lado os processos vernaculares de ocupação do solo estão normalmente ligados a vivências e experiencias de séculos, conhecê-las ajuda-nos a evitar erros.

DI: Aquilo a que chamamos "Arquitectura do Ramo Grande" é mesmo uma arquitectura individualizada? É uma variante? É outra coisa qualquer?
JP: A “Arquitectura Açoriana” tem uma matriz mediterrânica que depois se individualiza pela forma como esta se adapta ao meio, aos materiais disponíveis, às influências culturais externas, etc. A “Arquitectura do Ramo Grande” insere-se a meu ver nesse espírito de adaptação e evolução com a vantagem de ser o reflexo de um ambiente de abundância e riqueza cultural.

DI: São conhecidas notícias sobre a utilização de ruínas de casas do Ramo Grande para outros fins. Parece-lhe que este tipo de construção ou arquitectura deveria estar protegida por lei de forma mais eficaz?
JP: A destruição de um bem cultural é sempre uma perda irrecuperável, mais ainda quando em meios pequenos como o nosso, o seu número é reduzido. Faz, portanto, todo o sentido preservar e proteger, mas também educar as pessoas a apreciar, de modo a que sejam elas os primeiros agentes dessa protecção.

DI: As casas do Ramo Grande nasceram ligadas a uma determinada concepção de lavoura. Mortas essa concepção e as prácticas (e até gostos, etc.) que lhe estavam associadas, ainda vale a pena preservar esse tipo de habitação?
JP: Na faculdade, havia um professor que nos dizia que a melhor prova da qualidade de um edifício era a sua capacidade para resistir ao tempo e aos usos. Nessa medida um espaço com qualidade admite sempre adaptações a novas funções ou a novas vivências. Se anda meio mundo em busca de história que perdeu ou que nunca teve, por que raio quem a tem, teima em a deitar fora?

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