"(...)Era uma vez uma quinta toda cercada de muros.
Tinha arvoredos maravilhosos e antigos, lagos, fontes, jardins, pomares, bosques, campose um grande parque seguido por um pinhal que avançava quase até ao mar.
A quinta ficava nos arredores de uma cidade. O seu pesado portão era de ferro forjado pintado de verde. Quem entrava via logo uma grande casa rodeada por tílias altíssimas cujas folhas, dum lado verdes e do outro lado quase brancas, palpitavam na brisa.
(...) Naquela casa tudo era enorme: as portas, as janelas, a cozinha, a copa, os quartos, as salas, as escadas, os corredores.
Mas a maior devisão da casa era o grande átrio onde no Natal se armava o pinheiro. À roda desse átrio ficavam as salas: a sala de jantar com a sua mesa interminável: a sala de estar onde se tomava o chá nas tardes de Inverno: a sala do piano onde Isabel experimentava um por um o som misterioso das teclas brancas e pretas: a biblioteca com as estantes cheias de livros de capas duras com sombrios desenhos doirados e com uma grande mesa onde estava pousado o globo do mundo: a sala vermelha para onde entravam as visitas: a sala dos jogos onde Isabel fazia castelos de cartas sobre a mesa de pano verde, ou construía com as pedras de mah-jong e do dominó maravilhosas cidades habitadas só pelos cavalos do jogo de xadrez: a sala de bilhar (...). Mas a sala mais misteriosa era a sala de baile. A casa era tão grande que quase ninguém lá ia. (...) Às vezes, nas tardes de chuva, Isabel ia explorar a sala do baile. Entreabria com custo uma das portadas e um fio de luz iluminava a penumbra. Então surgiam os móveis cobertos de panos brancos, as pesadas cortinas de damasco vermelho, os grandes espelhos líquidos como um lago, as estátuas de mármore, brancas, imóveis e mudas, e o grande tapete azul cheio de rosas encarnadas.(...)
Do outro lado da casa ficavam a cozinha, a copa e a rouparia.(...)"
In A Floresta, de Sophia de Mello Breyner Andresen
Tinha arvoredos maravilhosos e antigos, lagos, fontes, jardins, pomares, bosques, campose um grande parque seguido por um pinhal que avançava quase até ao mar.
A quinta ficava nos arredores de uma cidade. O seu pesado portão era de ferro forjado pintado de verde. Quem entrava via logo uma grande casa rodeada por tílias altíssimas cujas folhas, dum lado verdes e do outro lado quase brancas, palpitavam na brisa.
(...) Naquela casa tudo era enorme: as portas, as janelas, a cozinha, a copa, os quartos, as salas, as escadas, os corredores.
Mas a maior devisão da casa era o grande átrio onde no Natal se armava o pinheiro. À roda desse átrio ficavam as salas: a sala de jantar com a sua mesa interminável: a sala de estar onde se tomava o chá nas tardes de Inverno: a sala do piano onde Isabel experimentava um por um o som misterioso das teclas brancas e pretas: a biblioteca com as estantes cheias de livros de capas duras com sombrios desenhos doirados e com uma grande mesa onde estava pousado o globo do mundo: a sala vermelha para onde entravam as visitas: a sala dos jogos onde Isabel fazia castelos de cartas sobre a mesa de pano verde, ou construía com as pedras de mah-jong e do dominó maravilhosas cidades habitadas só pelos cavalos do jogo de xadrez: a sala de bilhar (...). Mas a sala mais misteriosa era a sala de baile. A casa era tão grande que quase ninguém lá ia. (...) Às vezes, nas tardes de chuva, Isabel ia explorar a sala do baile. Entreabria com custo uma das portadas e um fio de luz iluminava a penumbra. Então surgiam os móveis cobertos de panos brancos, as pesadas cortinas de damasco vermelho, os grandes espelhos líquidos como um lago, as estátuas de mármore, brancas, imóveis e mudas, e o grande tapete azul cheio de rosas encarnadas.(...)
Do outro lado da casa ficavam a cozinha, a copa e a rouparia.(...)"
In A Floresta, de Sophia de Mello Breyner Andresen
Sem comentários:
Enviar um comentário