"In Sexus Veritas", de Pedro Chagas Freitas

A outra Casa
Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,
Que felicidade há sempre!
Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.
São felizes, porque não sou eu.
As crianças, que brincam às sacadas altas,
Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.
As vozes, que sobem do interior do doméstico,
Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.
Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.
Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.
Que grande felicidade não ser eu!
Mas os outros não sentirão assim também?
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.
Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
Nada! Não sei...
Um nada que dói...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
"A cidade de Angra do Heroísmo receberá, pela primeira vez o arquitecto Álvaro Siza Vieira para as comemorações do Dia Nacional dos Centros Históricos, que se celebram no dia 28 de Março. Angra do Heroísmo é, este ano, sede oficial das comemorações.
A Delegação dos Açores da Ordem dos Arquitectos associa-se a este evento, designadamente à conferência que Siza Vieira vai proferir, às 11h, do dia 28 de Março no Salão Nobre do Edificio dos Paços do Concelho, e para a qual foi atribuído 1 crédito, no âmbito da formação obrigatória em temáticas opcionais dos estágios de ingresso na Ordem dos Arquitetos. A conferência é dedicada ao tema "A Arquitectura e a Cidade" e a entrada é livre.
"A Delegação dos Açores da Ordem dos Arquitectos irá promover no próximo dia 29 de Outubro (sábado) pelas 15.00 horas uma Sessão de Esclarecimentos, na Associação dos Montanheiros, sito a Rua da Rocha nº6/8, em Angra do Heroísmo.
"O novo lar residencial/atelier de tempos livres (ATL) da Associação Cristã da Mocidade (ACM) da Terceira vai surgir literalmente das cinzas a que ficou reduzido o interior do imóvel da antiga sede da instituição, na Canada dos Folhadais, em São Carlos, Angra do Heroísmo, após um incêndio que deflagrou no passado mês de Junho.
O projecto de arquitectura, apresentado ontem à tarde, prevê a demolição total desse edifício e seus anexos, com excepção do pavilhão desportivo, e a construção de uma edificação de dois pisos, implantada em cerca de 1.100 metros quadrados, com capacidade para um máximo de treze utentes (doze, mais um, em casos pontuais).
Berta Silva, a presidente da direcção da ACM/Terceira refere que este é “um grande passo para a concretização dos nosso objectivos, preenchendo uma lacuna para os portadores de deficiência. Os nossos utentes e a nossa comunidade estão em primeiro lugar e não merecem menos que isso: uma habitação com condições adequadas para ser o seu lar”.
Porém, questionada pelos jornalistas, a responsável pela instituição, apesar de não quantificar, refere existir uma lista de espera superior à oferta que será em breve criada.
Obras até final do ano
“Este é um projecto de todos os sócios da ACM. É o início da concretização de um sonho”, assim definiu João Santos, presidente da assembleia-geral da ACM, na cerimónia de apresentação do projecto do novo lar residencial.
“O Governo Regional tem criado todas as condições, os órgãos sociais têm trabalhado e demonstrado merecer a confiança daqueles que põe à sua disposição dinheiros públicos para serem bem geridos e investidos, e a obra começa, de facto a nascer. Não vamos dizer se é tarde, se é cedo, é uma obra que nasce agora”.
O responsável explicou que o investimento, que resulta de verbas do executivo açoriano que oscilará entre os 850 mil e um milhão de euros, deverá arrancar até final deste ano, encontrando-se actualmente o projecto em apreciação na autarquia angrense, estimando-se a sua conclusão para daí a 8 a 12 meses.
A melhor residência a nível regional
A autarca angrense, Andreia Cardoso, referiu que a obra irá dar lugar a uma das melhores infra-estruturas do género: “a nível regional será das melhores residências que teremos de apoio a criança e jovens com deficiência”, reconhecendo tratar-se de um investimento que veio colmatar uma “carência” existente há já algum tempo na ilha Terceira.
“Este projecto é importante para as crianças do concelho de Angra do Heroísmo portadores de deficiência que, felizmente, em hoje, dia, têm uma esperança média de vida muito superior ao que acontecia há uns anos e que, por isso, causam preocupações as pais porque os cuidados têm de, numa determinada fase da vida, ser necessariamente remetidos a outras pessoas”.
A edil recordou também o papel da ACM ao nível da actividade desportiva, referindo que “a ACM é referência ao nível do desporto na região”, recordando que a mesma é co-organizadora de uma prova mundial para jovens portadores de Síndrome de Down.
Empreendedorismo associativo procura-se
“Cada vez mais, precisamos que as direcções das nossas instituições tenham este empreendedorismo, tenham esta pro-actividade de avançar com a coisas, muitas vezes puxando por nós, atiçando a necessidade de darmos resposta e, de facto, nesta matéria a direcção da ACM está de parabéns”, referiu a directora regional da Solidariedade e Segurança Social, Natércia Gaspar, que substituiu a secretária regional do Trabalho e Solidariedade Social, Ana Paula Marques, na cerimónia.
“Há três anos, nascia o Centro de Actividades Ocupacionais (COA) da ACM e, na altura, foi sem dúvida, o melhor da COA dos Açores e a nova residência será muito provavelmente o melhor lar residencial para pessoas com deficiência”.
Para a governante, a ACM presta uma “resposta integrada”: “A ACM tem, neste momento, um COA, tem em carteira um centro de inserção social porque sempre teve muita preocupação com a ocupação laboral das pessoas com a deficiência – sendo uma referência na região nesta matéria – e tem projectos na área do desporto e vários projectos abertos à comunidade que a autarquia tem apoiado”.
Imóvel com dois pisos
O projecto para a edificação da nova residência, de autoria do gabinete “MMC – Arquitectura e Design”, possui oito quartos para os utentes (cinco duplos e três single´s) preparados para pessoas com mobilidade reduzida, localizados no piso superior.
O novo imóvel tem, por isso, projectado uma rampa exterior que permitirá uma “eficaz evacuação de utentes do Piso 1 em caso de emergência”, referiu o arquitecto Miguel Cunha.
Além de zona de alpendre, serão criadas “zonas de estar exteriores confortáveis e que prolonguem os espaços de convívio interiores”.
Em termos de acessibilidades, o projecto prevê acessos a viaturas de emergência, palas de cobertura nos principais acessos ao prédio, zona de cargas e descargas com funcionamento independente, entre outros."
Humberta Augusta
In Jornal União
carta
Ao som de Zeca de Medeiros, a música Torna Viagem… dói tanto ouvi-la…
”vem esquecer ventanias e vendavais”, “serei o barco tu serás o cais”, “esta noite não hei-de morrer”…
Só me apetece chorar.
Tenho saudades da ilha, ou melhor, do espaço que existe entre as ilhas, invadido pelo mar. Este vazio que tenho no meu coração é como uma cratera de um vulcão extinto sem forças para emergir.
Saudades… nostalgia… este aperto no peito, esta inquietação, as lágrimas redondas e pesadas… espaçadas.
Apetece-me partir, zarpar no primeiro barco, sem olhar para trás… e que o vento salgado seque as minhas lágrimas. E eu, enrolada e agasalhada numa manta feita de retalhos, de pedaços de mim.
O destino, o cais de chegada, o rumo, pouco importa, quero ir ao sabor das ondas, da correnteza… e atracar quando estiver vazia e cansada de mim.
De que serve a terra firme se é feita de margens, de distâncias que nos separam.
Já não vivo sem este sentimento ilhéu, longe do mar, longe da ilha, longe de mim.
A saudade mata mas permite o sonho enlevado de te Ter como quero, fantasiando uma história que nunca se concretizará de certo.
A solidão, os passos ao compasso da maresia ao longo da costa. Tento desvendar o que me diz o mar… detentor da mais antiga sabedoria, Ansião do universo…
O ritmo inconstante da maré e eu calada. Não há nada a fazer. Ficarei no cais na iminência da minha desgraça.
No horizonte uma neblina…reflexo da minha mente turva.
Quero libertar-me de Ti. Liberta-me! Liberta-me como quem solta as amarras de uma embarcação deixando-a à deriva da sua sorte. É certo o naufrágio. É certa a dor da perda. Conseguirei viver da réstia de sonho do que podia ter sido. Conseguirei subsistir com a lembrança das tuas palavras confessadas por desespero.
Serei sempre eu a ficar em terra, e tu embarcadiço da tua solidão, navegando de encontro ao desconhecido, arriscando tudo.
Devolveste-me ao Sonho. E eu devolvo-te a Ti.
"Na sequência do projecto do Inventário do Património Imóvel dos Açores realizado pelo Instituto Açoriano de Cultura, na âmbito de um contrato firmado com o Governo Regional dos Açores, através da Direcção Regional da Cultura, concretiza-se a publicação de um novo livro sobre o Património Imóvel de Santa Cruz da Graciosa, que será apresentado no próximo dia 22 de Outubro, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal daquele Concelho. Como já vem sendo habitual, a apresentação contará com uma conferência sobre o património imóvel do Concelho alvo da publicação, que será proferida pelo consultor do Projecto do Inventário do Património Imóvel dos Açores, Arquitecto João Vieira Caldas. Com a publicação deste livro – o décimo primeiro da colecção do Inventário do Património Imóvel dos Açores (depois dos de São Roque, Lajes e Madalena da ilha do Pico, de Vila Nova do Corvo, da Horta, da Praia da Vitória, de Vila do Porto, Lajes das Flores, Ribeira Grande e Santa Cruz das Flores) – ficam agora registados e acessíveis ao público em geral os elementos referentes às 166 espécies inventariadas que representam o significativo património arquitectónico deste concelho de Santa Cruz da Graciosa. O livro, com cerca de 300 páginas, para além de integrar um texto metodológico sobre o projecto, contém ainda textos de Susana Goulart Costa sobre o enquadramento histórico daquele concelho («Graciosa - A Ilha Esquecida»), de José Manuel Fernandes sobre a evolução da estrutura urbana da vila («Santa Cruz da Graciosa, o Concelho – Aspectos do Urbanismo e da Arquitectura»), de Jorge Augusto Paulus Bruno sobre «Arquitectura da Água – na Ilha Graciosa» e de João Vieira Caldas sobre «A Casa da Graciosa». São ainda publicados 12 mapas com a localização genérica dos 166 casos inventariados, as suas respectivas fichas descritivas e um pequeno glossário."